sábado, 9 de junho de 2012

Uma Análise da Sentinela de 15/6/2004 Sobre o Sangue



(5 de Junho de 2004, por Paulo Franco)

Alguns pontos positivos e alguns negativos nesse novo artigo na Sentinela de 15/6/04. Comecemos pelos positivos:

1) Artigos de estudo
Por serem artigos de estudo, as TJs vão ler e re-ler e, portanto, há uma possibilidade de que vejam quão pouco sentido isso faz e podem inclusive perceber alguns dos pontos que menciono abaixo na seção Observações.

2) Gráfico na página 22
Apesar de incompleto, este gráfico é um dos melhores já publicados mostrando o que a Sociedade não aceita e o que é “questão de consciência”.

3) Abandono do argumento “bebê na placenta”?
Já faz algum tempo que a Sociedade não usa esse argumento (veja seção abaixo O argumento “bebê na placenta”). Parece que a Sociedade o abandonou de vez, o que é algo positivo, uma vez que nós não podemos tomar decisões baseadas no uso que Jeová faz do sangue.


Observações


1) A Sociedade mistura duas coisas que são totalmente independentes: o sangue de Cristo e as transfusões de sangue

Essas são duas coisas totalmente distintas. O cristão sabe que o sangue de Cristo o salva (ou resgata) do pecado adâmico, diferente de uma transfusão de sangue, que apenas evita uma morte prematura, desnecessária. Por saber disso claramente, o cristão, ao se utilizar desse recurso médico, não tem a menor intenção de usá-lo como substituto para o sangue de Cristo, mas a Sociedade insiste em confundir e misturar as coisas. E o pior é que ela sabe do uso simbólico, figurativo, que a Bíblia faz da expressão “sangue de Cristo”, ou “sangue do Cordeiro”. (ver última frase do par.18, pág.18).

2) No passado foi o "Corpo Governante"; agora são "alguns cristãos".
Uma outra coisa que fica visível no artigo é que, quando a Sociedade fala da proibição de comer sangue para os cristãos do primeiro século ela diz claramente que foi uma decisão do Corpo Governante (veja pág.20, par.6, 7; pág.21,par.9 para exemplos disso), mas quando ela fala da proibição de transfusões de sangue hoje ela não diz de forma alguma que trata-se de uma proibição do “Corpo Governante” lá em Brooklyn. Veja abaixo como ela fraseia a questão, revelando claramente que esses artigos são revistos por advogados para não implicar legalmente a Sociedade nessa questão potencialmente explosiva.

"Como o cristão deve reagir? Ele tomou a firme decisão de nunca aceitar uma transfusão de sangue..." – pág.21, par.10

"Há décadas, as Testemunhas de Jeová deixaram clara a sua posição." – pág.21, par.11

"Portanto, em harmonia com os fatos da medicina, as Testemunhas recusam a transfusão de sangue total ou de qualquer dos seus quatro componentes primários." – pág.22, par.11

"as Testemunhas de Jeová, conforme mencionado nos parágrafos 11 e 12, não aceitam transfusões de sangue total, nem dos seus quatro componentes primários..." – pág.23, par.16

3) "Alguns chegaram a conclusão de que...”
Essa talvez seja a frase mais fantástica e absurda de todo o artigo. E talvez a mais fácil de uma TJ típica perceber toda a falácia do sangue.

"Alguns chegaram a conclusão de que essas pequenas frações, na realidade, não são mais sangue e por isso não estão incluídas na ordem de 'abster-se de sangue'”. - pág.23, par.16

Ou seja, não foi a Sociedade quem liberou as frações do sangue?!!! Foram “alguns” que liberaram o seu uso e a Sociedade está apenas comunicando os demais 6.5 milhões de TJs que, por isso, está liberado? Por favor, parem com isso!

4) A expressão ‘o cristão deve tomar a sua própria decisão’
Eu acho muito interessante a expressão “o cristão deve tomar a sua própria decisão”, ao invés da mais natural e apropriada expressão “o cristão pode tomar a sua própria decisão”. Veja um exemplo:

"O CRISTÃO DEVE DECIDIR”, box na pág.22

É desonesto o uso da expressão “o cristão deve...” porquê dá-se a impressão de que foram os “cristãos” que criaram toda essa regulamentação relacionada ao sangue e agora querem que a Sociedade decida por eles o que é certo e o que é errado quando, na verdade, nós sabemos que foi a Sociedade quem criou e fomentou todas essas regras do que pode/não pode em relação ao sangue.
É como se a Sociedade estivesse dizendo: “Escutem, irmãos, vocês não são maduros o suficiente para decidir sobre isso? Parem de pedir que tomemos decisões por vocês”. Quão desonesto!

5) "Cabe a eles a responsabilidade pela decisão" - pág.23, par.16
Esta frase é muito parecida com aquela ‘o cristão deve tomar a sua própria decisão’ (ver ponto 4 acima). Ou seja, primeiro a Sociedade cria a doutrina-confusão do sangue e depois diz que a responsabilidade pela decisão está com o rebanho.

6) Impressão de que nada mudou; trata-se de posição de longa data

Observe este trecho:

"Há décadas, as Testemunhas de Jeová deixaram clara a sua posição." – pág.21, par.11

A Sociedade tenta dá a impressão de que a doutrina do sangue é sólida, estável; de que nada mudou; são posições de longa data. Contudo, se você pesquisar o assunto, vai ver que a Sociedade vêm fazendo vários ajustes nessa doutrina aqui e acolá ao longo dos anos.

7) Situações absurdas
O parágrafo 14, página 23, apresenta uma série de situações absurdas e a Sociedade as compara com as "dúvidas" que os "verdadeiros cristãos" talvez tenham quanto a se devem ou não aceitar uma fração de sangue. Talvez a mais engraçada dessas situações é essa aqui, veja:

“Era necessário pendurar a ovelha pelas pernas traseiras? Por quanto tempo? O que faria no caso duma vaca?”

8) Permita-nos adestrar a sua consciência

A Sociedade diz, sem dizer exatamente; libera, mas impõe restrições; afaga a sua consciência aqui, mas bota um pouquinho de culpa ali. Essa questão do sangue é tão importante doutrinariamente para uma TJ que a Sociedade vai a extremos para liberar sem dizer que está liberando. Analise este trecho:

"Além disso, alguns produtos derivados de um dos quatro componentes primários podem desempenhar uma função tão similar a do componente primário e ter a mesma capacidade de sustentar a vida, que a maioria dos cristãos os condideraria objetáveis." – pág.24, par.16

Não entendi! Por qual outro motivo uma pessoa tomaria uma transfusão de sangue, senão para “sustentar a vida”, evitando uma morte prematura e desnecessária?

O argumento “bebê na placenta”
“A seção “Perguntas dos Leitores”, publicada em A Sentinela de 1.° de junho de 1990, observou que as proteínas do plasma (frações) passam do sangue da gestante para o sistema sanguíneo, separado, do feto. Portanto, a mãe passa imunoglobulinas para o filho, fornecendo-lhe imunidade valiosa. Separadamente, à medida que os glóbulos vermelhos do feto completam seu período normal de vida, o componente que transporta oxigênio é processado. Parte dele se transforma em bilirrubina, que passa para a mãe, atravessando a placenta, e é eliminada junto com os dejetos do corpo dela. Alguns cristãos podem concluir que visto que frações de sangue podem passar para outra pessoa neste ambiente natural, eles poderiam aceitar uma fração de sangue derivada de plasma ou de glóbulos sanguíneos.” – A Sentinela 15/6/2000, pág.30

Ou seja...

... Esse é aquele tipo de situação onde a Sociedade gasta 2 artigos e 39 parágrafos para dizer algo que poderia muito bem ser dito em apenas 2 ou 3 parágrafos, uma que vez que esses dois artigos resume-se a basicamente o seguinte: "irmãos, embora nós não aceitamos transfusão de sangue integral, aceitamos todos os componentes secundários do sangue (albumina, imunoglobina, Fator VIII, Factor IX) além de frações dos componentes primários. Apenas lembramos que aceitar esses componentes e frações é muito objetável para alguns irmãos; portanto faça esforço para evitar aceitá-los se isso for perturbar a consciência de outros."

Em resumo, esses dois artigos de A Sentinela tem os seguines ingredientes: muita mistura de assuntos não-relacionados para fazer volume e confundir, um pouco de "se vira, que você já é bem grandinho", um bocado de auto-elogio e auto-recomendação, um pouco de sentimento de culpa sobre a sua consciência, e bastante fraseologia esperta para não comprometer o Corpo Governante lá de Brooklyn. Tudo mexido muito bem e... pronto. Agora é só esperar a próxima vítima sofrer uma morte desnecessária e evitável. Simplesmente lamentável!

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