sexta-feira, 29 de junho de 2012

Como se recebe uma ovelha perdida?


Trecho de uma conversa com um amigo sobre se a Watchtower tem sincero interesse nas motivações de quem deseja voltar a ser uma Testemunha de Jeová.

Jedi, realmente, a Torre não se importa com o porquê você está voltando para seu redil. Inclusive, pergunto: 

— Qual a base bíblica para o torturante ritual de aceitação de uma ovelha que quer voltar à congregação cristã? 

As Testemunhas de Jeová, orientadas pelo Corpo Governante, exigem que, para poder retornar oficialmente à congregação cristã, a pessoa arrependida frequente as reuniões por uns seis meses, ou mais, sem ninguém poder falar com ela e sem que ela, por sua vez, possa dirigir qualquer palavra aos seus irmãos em Cristo. A tratam como um ser invisível, como se não fosse uma pessoa próxima ali, querendo retornar à congregação. 


— Foi desse modo impiedoso que Cristo ensinou a tratar as ovelhas perdidas que retornam?

"Qual de vocês que, possuindo cem ovelhas, e perdendo uma, não deixa as noventa e nove no campo e vai atrás da ovelha perdida, até encontrá-la? 

Lucas 15:4

Por que se exige da "ovelha" que tenta retornar ao rebanho que fique cerca de 6 MESES frequentando as reuniões e sem balir um só gemido ou uma só palavra? Qual a base bíblica para isso? 

Disse-lhe o filho [pródigo]: 

— Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho.

O pai, porém, disse aos seus servos: 

— Trazei-me depressa a melhor roupa e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos péstrazei também o novilho cevado, matai-o, comamos e regozijemo-nos

Lucas 15:21-23

Reparem como nos relatos bíblicos não há nenhum processo de humilhação no retorno da ovelha perdida, no retorno do filho pecador. Muito pelo contrário. Então por que o Corpo Governante orienta a que se deixe a ovelha por 6 meses recebendo um tratamento frio dentro da congregação cristã e sem pode falar nada? Sem dúvida, o Corpo Governante determinou um processo de SUBJUGAÇÃO da ovelha. O CG está mostrando quem é que manda e exigindo completa submissão. Mas qual a base bíblica para isso? NÃO HÁ.

Qual seria o modo realmente cristão de receber de volta a ovelha perdida? 

Tendo por base a resposta de Jesus diante de uma mulher adúltera:

— Vem e não peques mais (João 8:11)

Ou, embasada nas ilustrações de Lucas 15, a recepção da ovelha perdida seria com amor e com festa.

No máximo, os anciãos perguntariam se a pessoa se arrepende do erro cometido (supondo que tenha havido um erro grave) e perguntariam se ela está com a vida limpa segundo o modo de vida cristão, e pronto, seria aceita de braços abertos.

Então Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: 

— "Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? "

Jesus respondeu: 

— "Eu lhe digo: não até sete, mas até setenta vezes sete. 

Mateus 18:21-22

Em nenhuma passagem a Bíblia autoriza que a ovelha que estava perdida passe por um longo e sofrido processo de submissão às ordens do Corpo Governante antes de ser aceita na congregação cristã. Um processo que para alguns é realmente de humilhação pública. Se alguém tem argumento em contrário, que poste, mas Lucas 15 deixa muito claro que o modo cristão de agir para com os "perdidos" que retornam não é esse.


domingo, 24 de junho de 2012

Russell

 

O Pastor Russell foi o fundador das Testemunhas de Jeová, em sua época conhecidas como Estudantes Internacionais da Bíblia

   Russell (ou Russel, em português), se considerava um mensageiro de Deus, conforme uma linhagem especial e espiritual de homens aprovados por Deus. O livro O Mistério Consumado, editado em 1917, revela muitos conceitos que hoje parecem estranhos. Uma das formas mais ricas de conhecer melhor as Testemunhas de Jeová é analisando suas publicações antigas. Se quiser conferir a obra em inglês, pode lê-la aqui.

   






Analisemos algumas imagens presentes no livro O Mistério Consumado:



     É interessante notar como Russell era cultuado, mas também é importante observar como, naquela época, os grandes líderes protestantes, como Lutero, eram reconhecidos como sendo homens de Deus, aprovados. Não havia conflito em reconhecer que outras igrejas haviam revelado conhecimento exato, correto, aprovado por Deus. Hoje as Testemunhas de Jeová acreditam que elas são, exclusivamente, a fonte de todo conhecimento "puro e verdadeiro", enquanto os demais líderes e denominações religiosas são todos falsos, hipócritas.

    Russell não omitia ter bebido na fonte do protestantismo, que nada mais é do que uma parte da cristandade, todavia, se considerava o moderno mensageiro de Deus, oriundo de uma linhagem aprovada de homens de Deus, como vimos na figura acima.

      Na imagem a seguir, Russell é retratado como a fonte absoluta de "a verdade divina" perante "críticos".


        Nessa época, Russell identificava-se como sendo o "escravo fiel e discreto", de Lucas 12. É, aquilo que era "A verdade" divina, inquestionável perante os críticos, mudou bastante!

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Watchtower e a ONU

Sede da ONU, local de assembleias.
      Para quem já vem pesquisando há mais tempo sobre a Watchtower, não é novidade que ela foi associada à ONU por 10 anos, de 1992 a 2002. Porém, queria falar aqui do impacto emocional de se descobrir e confirmar essa informação. Eu cheguei a chorar de tristeza.

     Embora tivesse deixado de ser Testemunha de Jeová solicitando minha dissociação por carta, considerava que a organização das Testemunhas de Jeová era um exemplo de boa-fé, de lisura e que jamais mentiriam para os irmãos ou usariam a obra de pregação para propósitos estranhos.

    Quando vi que a dissidência (ex-Testemunhas de Jeová) havia denunciado que a Watchtower era associada à ONU, tendo cumprido exigências para ser aceita pela ONU, não acreditei. Mas ocorre que a prova estava, e ainda está, graças a Deus, disponível para todos que querem saber a verdade.

  1. Acesse o site oficial da ONU — www.UN.org 
  2. Clique em Welcome (Bem-vindo em inglês). Escolha o idioma inglês, pois os documentos estão em inglês. Caso não domine essa língua, você pode usar o tradutor do Google, será o suficiente para entender o que está escrito  http://translate.google.com.br
  3. Na nova página que vai aparecer, clique no botãozinho Go, que está no alto à direita.
  4. A seguir, clique no pequeno link Advanced Search. Você está indo para o campo de pesquisa avançada no site da ONU.
  5. Se preferir ir diretamente para a página de pesquisa avançada, o endereço é esse: www.un.org/en/search/index.shtml
  6. Agora falta muito pouco, é só escrever no campo with all of the words o nome da Watchtower: Escreva watchtower bible and tract.
  7. Vai aparecer uma lista de documentos, o primeiro alistado corresponde ao documento que comprova o acordo de associação.
     Se você nunca foi Testemunha de Jeová talvez não entenda o quão chocante é essa revelação para alguém que é Testemunha de Jeová fiel e dedicada ou o foi por muitos anos. A organização das Testemunhas de Jeová, através de seu eclesiástico Corpo Governante, ensina que a ONU é uma organização demoníaca, uma fera que desencaminha a humanidade se colocando no lugar do Reino de Deus, a coisa repugnante que está em pé no lugar Santo (Mateus 24:15). Então, sendo a ONU uma entidade descrita como tão blasfema e maléfica, como pode a organização mundial das Testemunhas de Jeová ter se associado à ONU, firmando acordo para isso?

     Alguns defensores da Watchtower (A Torre de Vigia é a sua congênere no Brasil) tem dito que a organização das Testemunhas de Jeová associou-se à ONU para poder pesquisar em sua biblioteca. Mas será que tal explicação é aceitável? Primeiramente, tal explicação extraoficial só surgiu depois que a dissidência denunciou o fato, e, em segundo lugar, será que por tão pouco a Watchtower se associaria a  um dos mais destacados instrumentos do Diabo para desencaminhar a humanidade, conforme ela ensina? Pelo favor de poder pesquisar nos livros da ONU, a Watchtower se curvaria diante da ONU assinando acordo de colaboração? Não, não posso aceitar uma conduta tão incoerente de quem deveria dar o exemplo, de quem, supostamente, é servo ungido de Deus e deveria falar com verdade e sinceridade para os irmãos.

     Infelizmente, essa questão não termina aqui, ainda há mais indícios comprometedores contra a Watchtower, nesse assunto.

      A revista DESPERTAI, publicada pela Watchtower, foi usada para fazer propaganda da ONU.

Confira esses exemplares:


     1. DESPERTAI - 08/09/1991 - capa da ONU, divulgação em tom elogioso e sem críticas.

     2. DESPERTAI - 22/11/1998 - capa sobre Direitos Humanos, que é uma missão da ONU, divulgação direta de seus objetivos e trabalhos, sem qualquer texto falando que ela é a FERA que desencaminha a humanidade.


       A importância dessas revistas está no fato de o primeiro exemplar alistado ter sido publicado pouco antes da Watchtower ser aceita como associada da ONU em 1992, sendo que um dos requisitos exigidos pela ONU era, expressamente, o de que a Watchtower ajudasse a divulgar os trabalhos da ONU. O público foi alcançado através da revista DESPERTAI. O segundo exemplar alistado, veio quando a Watchtower já era oficialmente associada à ONU e precisava manter o acordado com ela. Considere esse trecho da Despertai de 8/setembro/1991:






     Considerando o documento oficial da ONU, não resta dúvida de que a organização das Testemunhas de Jeová, através de uma de suas principais pessoas jurídicas, a Watchtower Bible and Tract Society of New York, esteve associada a ONU por vários anos e, para tal fim, assumiu o compromisso de divulgar as atividades das Nações Unidas através de suas publicações. Fez tal divulgação, em tom suave, acrítico e elogioso, em pelo menos dois exemplares da revista Despertai.

       Link direto para o documento no site da ONU:

http://search.un.org/smb/secf10.un.org/DigiLib/$/DigitalLibrary/Dig/www.un.org/dpi/ngosection/pdfs/watchtower.pdf

   
     — Parece ser honesta e correta essa forma de agir? Pode uma organização que se diz a única verdadeira, pregar e ensinar uma coisa e depois fazer escondida acordos com aquilo que ela declarou como pertencendo ao Diabo e Satanás?


       Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito.


Lucas 16:10


      Mas nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido.


Lucas 12:2


      Perceber que homens manipulam a fé e agem conforme interesses escusos, utilizando até mesmo a obra de pregação bíblica para isso, é realmente muito desapontador. As Testemunhas de Jeová pregaram de casa em casa com os exemplares de Despertai sem poder imaginar que ao fazerem isso cumpriam um acordo da Watchtower com a ONU.

     Foi por isso que Cristo alertou contra a eleição de Mestres. Somente Cristo é o caminho e não uma organização.

   
     Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo.


Mateus 23:10



     Não confieis em príncipes, nem em filho de homem, em quem não há salvação. 


Salmos 146:3


     Fiquem com Deus e, apesar dos graves desapontamentos e das falhas humanas, não permitam que a amargura lhes quebre o espírito. É isso que desejo para todos que tem fé ou um dia tiveram.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Sangue, Levítico 17:10 e a Lei Mosaica


Abate kosher, segundo a lei Mosaica.

Lee Elder e Jan Haugland


O próximo conjunto de textos usados pela Sociedade Torre de Vigia em apoio do seu ensino sobre o sangue encontra-se na Lei mosaica e está registado nos livros de Levítico, Deuteronômio e Primeiro Samuel.

Comecemos por lê-los, juntamente com os comentários da Sociedade Torre de Vigia na brochura sobre o sangue:
"'Quanto a qualquer homem da casa de Israel ou algum residente forasteiro que reside no vosso meio, que comer qualquer espécie de sangue, eu certamente porei minha face contra a alma que comer o sangue, e deveras o deceparei dentre seu povo. 11 Pois a alma da carne está no sangue, e eu mesmo o pus para vós sobre o altar para fazer expiação pelas vossas almas, porque é o sangue que faz expiação pela alma [nele]. 12 Foi por isso que eu disse aos filhos de Israel: "Nenhuma alma vossa deve comer sangue e nenhum residente forasteiro que reside no vosso meio deve comer sangue." 13 "'Quanto a qualquer homem dos filhos de Israel ou algum residente forasteiro que reside no vosso meio, que caçando apanhe um animal selvático ou uma ave que se possa comer, neste caso tem de derramar seu sangue e cobri-lo com pó. 14 Pois a alma de todo tipo de carne é seu sangue pela alma nele. Por conseguinte, eu disse aos filhos de Israel: "Não deveis comer o sangue de qualquer tipo de carne, porque a alma de todo tipo de carne é seu sangue. Quem o comer será decepado [da vida]." (Levítico 17:10-14)
Neste ponto é útil analisar como a brochura corrente da Sociedade Torre de Vigia trata estes versículos. Aqui está uma citação direta:
"Ele novamente se referiu ao sangue ao dar a Israel o código da Lei. Ao passo que muitos respeitam a sabedoria e a ética daquele código, poucos estão cônscios de suas sérias leis sobre o sangue. Por exemplo: "Se alguém da casa de Israel, ou dos estrangeiros que residirem entre eles, tomar qualquer sangue, eu porei a Minha face contra a pessoa que toma o sangue, e a cortarei de entre seus parentes. Pois a vida da carne está no sangue." (Levítico 17:10, 11, versão judaica Tanakh) Deus então explicou o que um caçador devia fazer com um animal morto: "Ele deve derramar o seu sangue e cobri-lo de terra.... Não deveis tomar o sangue de carne alguma, pois a vida de toda carne é o seu sangue. Qualquer pessoa que tomar dele será cortada." -- Levítico 17:13, 14, Ta. [...] Ao passo que a lei sobre o sangue tinha aspectos relativos à saúde, havia muito mais envolvido. O sangue tinha um significado simbólico. Representava a vida concedida pelo Criador. As pessoas, ao tratarem o sangue como algo especial, demonstravam que dependiam Dele para viver. Sim, o motivo principal pelo qual elas não deveriam tomar sangue era, não que o sangue era ruim para a saúde, mas que o sangue tinha um significado especial para Deus." (Como Pode o Sangue Salvar a Sua Vida? (1990), pp. 3-4)
Portanto, nestas partes da Lei mosaica encontramos detalhes a respeito do sangue. Este deve ser derramado no chão e qualquer pessoa que o coma deliberadamente será decepada.
Será que estes textos estão a reafirmar e alargar o assim chamado "pacto eterno" encontrado em Gênesis capítulo 9? Conforme já vimos, esse pacto não era eterno, pelo menos não era eterno em todos os aspectos. Além disso, estes mandamentos são claramente uma parte da Lei de Moisés. Isto é muito importante pois os cristãos não estão sob a Lei mosaica.
  • "Porque Cristo é o fim da Lei, para que todo aquele que exercer fé possa ter justiça." (Romanos 10:4)
  • "No entanto, antes de chegar a fé, estávamos sendo guardados debaixo de lei, entregues juntos à detenção, aguardando a fé que estava destinada a ser revelada. 24 A Lei, por conseguinte, tornou-se o nosso tutor, conduzindo a Cristo, para que fôssemos declarados justos devido à fé. 25 Mas agora que chegou a fé, não estamos mais debaixo dum tutor." (Gálatas 3:23-25)
Consequentemente, os textos da Lei de Moisés não têm em si mesmos, ou por si só, qualquer relevância na questão de saber se era apropriado um cristão usar sangue. A Lei mosaica foi pregada na estaca junto com Cristo. Ficou anulada, vazia e sem qualquer força ou efeito. Argumentar em contrário é negar as verdades simples afirmadas claramente ao longo de todos os escritos de Paulo e no Novo Testamento.
"Por meio de sua carne, ele aboliu a inimizade, a Lei de mandamentos, consistindo em decretos [...]" (Efésios 2:15)
A Sociedade Torre de Vigia tem reconhecido isso muitas vezes nos seus escritos:
"Se os seguidores judeus de Jesus não mais estavam sob a maldição da Lei, será que algum cristão se achava sob a obrigação de observar todos os mandamentos dados a Israel? Paulo escreveu aos colossenses: "[Deus] nos perdoou bondosamente todas as nossas falhas e apagou o documento manuscrito que era contra nós, que consistia em decretos e que estava em oposição a nós; e Ele o tirou do caminho por pregá-lo na estaca de tortura [de Cristo]." (Colossenses 2:13, 14) Não há dúvida de que muitos cristãos primitivos precisavam ajustar seu modo de pensar e reconhecer que tinham sido "exonerados da Lei". (Romanos 7:6)" (A Sentinela, 15 de novembro de 1989, p. 5, itálico nosso)
Apesar disto, a Sociedade Torre de Vigia acha apropriado citar essas leis defuntas para apoiar a sua política sobre o sangue. À medida que avançamos na leitura da brochura, deparamo-nos com um exemplo particularmente flagrante de atribuir aos textos bíblicos um sentido que pura e simplesmente não está lá:
"A Lei repetidas vezes declarava a proscrição do Criador a se tomar sangue para sustentar a vida. "Não o deves comer [i.e., o sangue]. Derrama-o na terra, como água. Não o comas, para seres feliz com teus filhos, fazendo o que é reto." -- Deuteronômio 12:23-25, Bíblia Vozes; Deut. 15:23; Levítico 7:26, 27; Ezequiel 33:25." (Como Pode o Sangue Salvar a Sua Vida? (1990), p. 4, itálico nosso)
Será que a Lei mosaica realmente declara a proscrição do Criador dessa forma? Com certeza que não. Em nenhum lado lemos sobre "a proscrição do Criador a se tomar sangue parasustentar a vida." O que lemos é que o Criador proscreve "comer" sangue. Esta é uma diferença subtil mas importante.
Existem muitas coisas que fazemos para sustentar a vida: respirar oxigênio, beber água, servir-nos de alimento, dormir e assim por diante.
Está claramente estabelecido que, de uma perspectiva médica ou científica, receber uma transfusão de sangue não é o mesmo que comer sangue. Por isso, a Sociedade Torre de Vigia sente necessidade de encontrar alguma maneira de ligar as duas coisas. Ela faz isso ao argumentar que quando a Bíblia diz para não "comer sangue", o que isto realmente quer dizer é não sustentar a vida com sangue. Claramente, não é isto o que os textos dizem.
Consideremos o parágrafo seguinte da brochura:
"Contrário ao raciocínio de alguns hoje, a lei de Deus sobre o sangue não deveria ser desconsiderada numa emergência. Alguns soldados israelitas, em certa crise de tempo de guerra, mataram animais e 'foram comê-los junto com o sangue'. Tratando-se duma emergência, era-lhes permissível sustentar a vida com sangue? Não. Seu comandante indicou-lhes que seu proceder ainda constituía um grave erro. (1 Samuel 14:31-35) Assim sendo, por mais preciosa que seja a vida, nosso Dador da Vida jamais disse que suas normas poderiam ser desconsideradas em caso de emergência." (Como Pode o Sangue Salvar a Sua Vida? (1990), p. 4, itálico nosso)
Agora, honestamente, será que é razoável referir-se a um grupo de soldados esfomeados como uma "emergência", ou é isso uma tentativa desastrada para associar o relato com as modernas emergências médicas que requerem transfusões de sangue? Qual de nós iria igualar uma crise médica de vida ou morte com um bando de guerreiros esfomeados?
Também vale a pena sublinhar mais uma vez o uso da expressão "sustentar" como substituto para a palavra "comer". Isso é uma manipulação deliberada do relato bíblico. É uma tentativa de fazê-lo dizer algo que ele não diz.
Por outro lado, o que esta história bíblica nos ensina é muito interessante. Repare no que aconteceu a estes soldados esfomeados que, numa "emergência", decidiram "sustentar a vida"comendo carne "junto com o sangue":
"Depois, Saul disse: "Espalhai-vos entre o povo, e tendes de dizer-lhes: 'Trazei a mim, cada um de vós, seu touro e, cada um, seu ovídeo, e tendes de fazer o abate neste lugar, bem como o comer, e não deveis pecar contra Jeová por comer junto o sangue.'" Por conseguinte, todo o povo trouxe perto, cada um, seu touro que se achava na sua mão, naquela noite, e fizeram o abate ali. 35 E Saul passou a construir um altar a Jeová. Com isso principiou a construir um altar a Jeová." (1 Samuel 14:34-35)
Apesar de a Lei mosaica exigir a morte de alguém que deliberadamente comesse sangue, a conseqüência do pecado grave destes soldados israelitas foi uma reprimenda verbal. No entanto, se uma Testemunha de Jeová hoje tiver uma emergência médica e aceitar uma transfusão de sangue, com toda a probabilidade será sancionada pela Sociedade Torre de Vigia e ser-lhe-á negado um relacionamento normal com os seus amigos Testemunhas de Jeová e membros da família. As suas ações serão vistas como um pecado grave merecedor da morte e expulsão da congregação.
O sangue estava no centro da Lei mosaica, com o seu sistema de sacrifícios animais, e tinha grande significado na vida de um israelita, visto que o derramamento de sangue podia expiar temporariamente o pecado. Claramente, nesse contexto o sangue era sagrado. Ao derramá-lo no chão e cobri-lo com terra, um caçador israelita mostrava o seu respeito pela vida que tinha tirado com permissão divina. Adicionalmente, um animal devidamente sangrado estaria mesmo morto e o caçador estaria em conformidade com o mandamento encontrado em Gênesis 9:4 que, conforme vimos, essencialmente significava que não se devia comer o animal quando este ainda estava vivo. Por fim, ao não comer o sangue, o israelita mostrava o seu apreço pelo significado do sangue usado no arranjo de sacrifícios animais do templo.
Vale a pena ler os capítulos 17 e 18 de Levítico para apreciar o contexto em que estas proibições ocorrem. Uma análise cuidadosa é reveladora. Por exemplo, o leitor talvez fique surpreendido ao ver quão preciosa é toda a vida para Deus. Se um israelita, ao matar um animal doméstico, não o trouxesse ao sacerdote para que o sangue fosse aspergido sobre o altar, ele tinha culpa de sangue e merecia a morte, exatamente como se tivesse morto outro humano! (Levítico 17:3-6)
Os requisitos eram muito mais simples quando envolviam animais selvagens e a caça, embora o sangue ainda tivesse de ser derramado no chão. (Levítico 17:13) Os requisitos mais estritos envolvendo um animal doméstico provavelmente ficam a dever-se ao seu uso como sacrifício de participação em comum envolvendo o adorador, o sacerdote e Jeová.
Uma pergunta lógica neste ponto seria: "Qual é o significado do sangue?" Há alguma coisa especial nele, alguma propriedade mágica?
A pergunta pode ser respondida se considerarmos o que a lei tinha a dizer sobre animais que morriam de causas naturais ou talvez mortos por um predador:
"Quanto a qualquer alma que comer um corpo [já] morto ou algo dilacerado por uma fera, quer seja natural quer residente forasteiro, neste caso terá de lavar suas vestes e banhar-se em água, e ele terá de ser impuro até à noitinha; e ele terá de ser limpo. 16 Mas, se não as lavar e se não banhar sua carne, então terá de responder pelo seu erro." (Levítico 17:15-16)
Podemos facilmente imaginar uma situação em que um israelita se encontrasse perdido, ou forçado pelas circunstâncias a permanecer num local, e sem comida. Se ele encontrasse um animal morto, claro que perceberia que o animal não tinha sido devidamente sangrado. A lei permitia-lhe comer este animal conforme providenciado no texto, desde que ele seguisse o que é claramente um ritual do código da lei. Se Deus estava disposto a permitir que um israelita comesse sangue sob estas circunstâncias, não estaria ele disposto a permitir que alguém aceitasse uma transfusão de sangue para preservar a vida numa emergência médica? É razoável assumir que sim.
Além disso, encontramos disposições adicionais na Lei a respeito de residentes forasteiros e de comer sangue de animais não sangrados:
"Não deveis comer nenhum corpo [já] morto. Podes dá-lo ao residente forasteiro que está dentro dos teus portões, e ele tem de comê-lo; ou pode ser vendido a um estrangeiro, porque és um povo santo para Jeová, teu Deus." (Deuteronômio 14:21)
Note que a razão apresentada para não comer o corpo morto é que os israelitas são um "povo santo". Não é o sangue ou a sua santidade que está em causa. Isto é claro pois Deus não se importa que não-judeus comam a carne com o sangue nela.
Se raciocinarmos sobre tudo isto, torna-se evidente que o sangue em si mesmo não era sagrado. Não possui propriedades mágicas. O sangue que corre pelas veias de uma criatura viva representa a vida e se alguém tirava uma vida tinha de derramar o sangue no chão, devolvendo-a a Deus. No caso de um animal que morria por si mesmo, nenhum humano tinha tirado uma vida, e este requisito podia ser posto de lado. O único assunto envolvido era a limpeza cerimonial.
É importante notar que a proibição contra comer sangue de um animal não teria resultado na morte de um homem ou mulher devotos. De fato, muitas vezes argumenta-se que o objetivo destas observâncias, em parte, era proteger a saúde dos crentes. Mas se essa proibição for aplicada a um procedimento médico, resulta freqüentemente no sofrimento e morte de Testemunhas de Jeová. Tal conseqüência é suficiente para mostrar que esta extensão adicional da proibição contra comer sangue não faz parte das intenções da Lei mosaica. Vale a pena notar que nenhum grupo de judeus aplica estas sanções ao uso médico do sangue, nem mesmo os judeus mais ortodoxos que estão sempre tão preocupados em não desagradar a Deus.

Ao concluirmos a nossa análise desta seção da Bíblia, estabelecemos o seguinte:
  • A Lei mosaica não é vinculativa para os cristãos. Isto é reconhecido pelas escrituras e pela Sociedade Torre de Vigia.
  • A Lei mosaica proíbe que se coma sangue de forma deliberada. A Lei nada diz sobre usar sangue para "sustentar a vida".
  • A Lei mosaica descreve situações em que uma pessoa podia indiretamente comer sangue sob certas circunstâncias.
  • O sangue não possui propriedades místicas. Se um israelita matava um animal, tinha de derramar o sangue no chão em reconhecimento de que tinha tirado uma vida com permissão divina e estava a devolvê-la a Deus.
Antes de avançarmos para a análise do último texto usado pelas Testemunhas de Jeová, em Atos dos Apóstolos, é importante tomarmos nota da ordem pela qual as proibições ocorrem no livro de Levítico, pois isto vai ser essencial para entendermos a próxima seção em Atos capítulo 15:
1.º Sacrifícios de participação em comum (ofertas de alimento) deviam ser feitos apenas a Jeová Deus (Levítico 17:1-9).
2.º Comer sangue de forma deliberada e intencional era proibido (Levítico 17:10-14).
3.º Só numa situação excepcional é que um animal que tinha morrido por si mesmo ou sido dilacerado por uma fera podia ser consumido (Levítico 17:15-16; veja também Deuteronômio 14:21, 28-29).
4.º Eles não se podiam envolver em atos sexuais imorais ou relações incestuosas (Levítico 18:1-27).

sábado, 9 de junho de 2012

“1914 – A Geração Que Não Passará” – Part II


31 de Maio de 2003

Por décadas, a Sociedade Torre de Vigia, a organização-mãe por trás das Testemunhas de Jeová, ensinou aos seus seguidores que a “geração” a que Jesus se referiu em Mateus 24:34 foi a geração de 1914, por mais estapafúrdio que isto possa parecer. As Testemunhas de Jeová, porém, não viam nada de engraçado nisso e, como fazem com tudo que vêm da Torre, não apenas levaram isso a sério mas encararam esse bizarro “entendimento” como prova de que a organização Torre de Vigia era iluminada, tinha a “verdade” bíblica.

O que talvez seja mais trágico, contudo, é pensar que as dóceis Testemunhas de Jeová ao longo de décadas gastaram bilhões de horas no “serviço de campo” - a busca de conversos de porta-em-porta – levando aos moradores aquela “importante” e “urgente” mensagem. Tudo isso até Novembro de 1995. Num número de A Sentinela naquele mês, a Sociedade Torre de Vigia disse que o “povo de Jeová” – sutilmente eximindo o Corpo Governante de responsabilidade - estava enganado durante todo aquele tempo. Disseram que foi tudo um grande mal-entendido. Veja aqui o artigo "1914 - A Geração Que Não Passará" - Parte I" para uma consideração do que foi dito naquela Sentinela e qual é agora a nova interpretação.

Veja a seguir apenas alguns exemplos do que foi ensinado a elas sobre a “geração de 1914” ao longo das décadas, antes de Novembro de 1995. Os grifos por itálicos são da Sociedade; os por sublinhamento são nossos.






Despertai! de 8 de Novembro de 1994.

Num artigo na pág. 10 intitulado "O verdadeiro significado de 1914", esta revista diz: "Como diz na página 4: "Esta revista gera confiança na promessa do Criador de estabelecer um novo mundo pacífico e seguro, antes que passe a geração que viu os acontecimentos de 1914." Sem dúvida muitos de nossos leitores acham surpreendente esta declaração."


A Sentinela, 15 de Julho de 1982, pág. 11:
3 Jesus predisse que alguns dos que estariam vivos quando os “últimos dias” começassem viveriam para ver o fim deste sistema. Já se passaram uns 68 anos desde que a “geração” de 1914 presenciou o começo dessas dificuldades. (Mateus 24:34) Portanto, quase já se esgotou o tempo desta “geração pervertida e deturpada”. (Filipenses 2:15) Dentro em pouco poderemos ser testemunhas oculares do cumprimento de muitas profecias bíblicas relacionadas com a ‘passagem deste mundo’. (1 João 2:17) E podemos ter plena confiança em que essas profecias se cumpram em cada pormenor. Jeová, “Aquele que desde o princípio conta o final”, Aquele que inspirou essas profecias, “jurou, dizendo: ‘Seguramente, assim como tencionei, assim terá de acontecer; e assim como aconselhei, deste modo se efetuará’”. - Isaías 14:24; 46:10; 2 Pedro 1:20, 21.


A Sentinela, 1 de Maio de 1985, pág. 4 (Demora Deus Seu Julgamento?):
Assim, o julgamento de Deus precisa ser executado antes que a geração de 1914 se extinga completamente. Ainda existe um número considerável dos dessa geração. Por exemplo, em 1980 ainda havia 1.597.700 pessoas vivas na República Federal da Alemanha que nasceram em 1900 ou antes. Esse número seria ainda maior se milhões dos seus cidadãos não tivessem sofrido a morte prematura durante as duas guerras mundiais.
Ao prometer que “esta geração de modo algum passará”, Jesus usou as duas partículas negativas gregas ou e meA Bíblia Companheira (em inglês) explica esse uso como segue: “As duas partículas negativas quando combinadas perdem seus significados distintivos, e formam a mais forte e mais enfática asseveração [afirmação].” Somente agora, numa ocasião em que parece que a geração poderia passar antes que tudo se cumpra, é que as palavras de Jesus, “de modo algum”, assumem verdadeiro significado.


A Sentinela, 1 de Maio de 1985, pág. 7 (Por Que Deus Ainda Não Executou Seu Julgamento):
Sabemos também que a geração de 1914 encontra-se numa fase bem adiantada do declínio de sua existência, restando assim pouco tempo para esta profecia ainda se cumprir. Mas sabemos também - para isso temos a promessa do próprio Jesus - que “esta geração de modo algum passará até que todas estas coisas aconteçam”. - Revelação 17:11; Marcos 13:30.


A Sentinela, 15 de Julho de 1985, pág. 28 (“O Tempo Que Resta É Reduzido”) :
Além disso, também tem havido uma diminuição no número dos que pertencem a “esta geração” de 1914, que não passará até que se cumpra tudo aquilo que Jesus predisse para o nosso tempo. (Mateus 24:34) Esse é outro indício claro de que está próximo o fim deste sistema.


A Sentinela, 15 de Fevereiro de 1986, pág. 5 (Apocalipse - Quando?) :
Sim, como esta revista tem trazido à atenção de seus leitores ao longo dos anos, a evidência aponta para a geração de 1914 como sendo aquela a que Jesus se referiu.  Assim, “esta geração de modo algum passará até que todas estas coisas [incluindo o apocalipse] ocorram”.


A Sentinela, 1 de Outubro de 1988, pág. 7 (Tem Visto o Sinal?) :
Milhões de pessoas, depois de examinarem o sinal à luz da história do século 20, convenceram-se de seu cumprimento. (Veja também Mateus, capítulo 24, e Marcos, capítulo 13.) A geração de 1914 é, sem dúvida, uma geração marcada. É a geração envolvida no segundo cumprimento das palavras de Jesus: “Esta geração de modo algum passará até que todasestas coisas ocorram.” (Lucas 21:32) “Todas estas coisas” incluem ficarmos livres dos desconcertantes problemas da humanidade.


A Sentinela, 1 de Maio de 1992, pág. 7 (A Geração de 1914  Por Que É Significativa?) :
Antes de a geração de 1914 deixar de existir, a obra de pregação do Reino terá alcançado seu objetivo. “Então”, predisse Jesus, “haverá grande tribulação, tal como nunca ocorreu desde o princípio do mundo até agora, não, nem tampouco ocorrerá de novo. De fato, se não se abreviassem aqueles dias, nenhuma carne seria salva; mas, por causa dos escolhidos, aqueles dias serão abreviados”. — Mateus 24:21, 22.


A Sentinela, 15 de Agosto de 1992, pág. 9 (Hospital Histórico Transformado em Salão do Reino sem Igual) :
A revista agora conhecida como A Sentinela está livremente disponível aos visitantes. Desde 1879, esta revista tem aumentado em tiragem para mais de 15 milhões de exemplares quinzenais em 111 idiomas. Indica às pessoas a promessa bíblica de que alguns da geração de 1914 ainda estarão vivos para ver o restabelecimento da boa saúde física e espiritual da humanidade. (Isaías 33:24)

Despertai!, 8 de Novembro de 1994, pág. 10 (O Verdadeiro Significado de 1914) :
Como diz na página 4: “Esta revista gera confiança na promessa do Criador de estabelecer um novo mundo pacífico e seguro, antes que passe a geração que viu os acontecimentos de 1914.

Este tempo do fim, contudo, havia de ser um período relativamente curto — dentro do espaço de uma geração. (Lucas 21:31, 32) O fato de que estamos agora 80 anos além de 1914 indica que podemos esperar para breve a libertação que o Reino de Deus trará. Isto significa que veremos “o mais humilde da humanidade” — Jesus Cristo — assumir o controle completo do “reino da humanidade” e implantar um pacífico e justo novo mundo. — Daniel 4:17.



Nos Livros...

Livro Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra, edição 1985, pág. 154:
8 Após chamar a atenção para as muitas coisas que assinalaram o período de 1914 em diante, Jesus disse: “Esta geração de modo algum passará até que todas estas coisas [incluindo o fim deste sistema] ocorram.” (Mateus 24:34, 14) A que geração se referia Jesus? Ele referia-se à geração de pessoas que viviam em 1914. As pessoas ainda remanescentes daquela geração são agora bem idosas. Contudo, algumas delas ainda estarão vivas de modo a presenciar o fim deste sistema iníquo. Assim, podemos ter certeza disto: Em breve haverá um fim súbito de toda a iniqüidade e de todas as pessoas iníquas, no Armagedom.

Livro Segurança Mundial Sob o “Príncipe da Paz”, 1986, pág. 16 (Capítulo 2 - O “Príncipe da Paz” Defronta-se com o Armagedom) :
A geração de 1914 presenciou os significativos acontecimentos mundiais preditos por Jesus. (Mateus 24:3-14) Esta geração, disse Jesus, não passaria sem que todas essas coisas se cumprissem. Ela está agora já bem perto de seu fim. — Mateus 24:34.

Livro Verdadeira Paz e Segurança – Como Poderá Encontrá-la?, 1986, pág. 83-84, parágrafo 28 (Capítulo 7 - Quando Virá a Predita Destruição Mundial?) :
28 “Acerca daquele dia e daquela hora”, disse Jesus, “ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, mas unicamente o Pai”. Mas Jesus deu um indício útil do tempo ao dizer: “Esta geração de modo algum passará até que todas estas coisas ocorram.” (Mateus 24:34, 36) Assim, todas as várias particularidades do “sinal”, bem como a “grande tribulação”, precisam ocorrer dentro do período de vida de uma geração — a geração de 1914. Isto significa que algumas pessoas que observaram os acontecimentos de 1914, quando começou a “terminação do sistema de coisas”, ainda alcançarão com vida o fim deste, quando a “grande tribulação” irromper. Os que se lembram dos acontecimentos de 1914 estão agora com idade avançada. A maioria deles já faleceu. Mas, Jesus nos assegurou de que “esta geração de modo algum passará” antes de vir a destruição deste iníquo sistema de coisas. — Mateus 24:21.

Livro Raciocínios à Base das Escrituras, 1989:
pág. 112:
Antes que os últimos membros da geração que já existia em 1914 desapareçam do cenário, todas as coisas preditas ocorrerão, inclusive a “grande tribulação”, na qual será eliminado o presente mundo iníquo. — Mat. 24:21, 22, 34.

pág. 419:
O atual sistema iníquo de coisas, que se estende mundialmente, entrou nos seus últimos dias em 1914, e alguns da geração que vivia então estarão também presentes para observar seu fim completo na “grande tribulação”.

pág. 423:
(A “geração” que estava viva no começo do cumprimento do sinal em 1914 está agora bem avançada em idade. O tempo que resta deve ser muito curto. As condições mundiais fornecem toda a indicação de que este é o caso.)

Livro Testemunhas de Jeová - Proclamadores do Reino de Deus, 1993, pág. 716:
Mas não perdem a fé nas palavras de Jesus: “Deveras, eu vos digo que esta geração de modo algum passará até que todas estas coisas ocorram.” (Mat. 24:34) A expressão “estas coisas” refere-se aos vários aspectos do “sinal” composto. Esse sinal está em evidência desde 1914 e culminará na “grande tribulação”. (Mat. 24:21) A “geração” que estava viva em 1914 está minguando rápido. O fim não pode estar distante.


Hoje, porém...


...é quase inevitável para a Testemunha de Jeová típica olhar para o passado e não lamentar todo o esforço, tempo e energia gastos em divulgar aquela “importante mensagem” que não passava de fumaça e que agora virou vapor. É quase inevitável para ela olhar com melancolia para um passado quando ela ia dormir com a certeza de que o fim “deste velho sistema iníquo de coisas” não ‘passaria da virada do século’ mas que agora elas não tem mais certeza pois a Sociedade Torre de Vigia reinterpretou tudo aquilo.

A realidade chegou. E o doce sonho... bem... vai ter que esperar um pouco mais.

"1914 - A Geração Que Não Passará" - Part I




"Ainda há muitos milhões dessa geração vivos. Alguns deles 'de modo algum passarão até que todas estas coisas ocorram'. - Lucas 21:32.
Desde 1914 já atravessamos duas guerras mundiais e muitos outros grandes conflitos, além de fomes, terremotos, pestilência e coisas desse tipo. (Lucas 21:10, 11) Mas Jesus disse: “Esta geração de modo algum passará até que todas estas coisas ocorram.” (Mateus 24:34)" (grifo adicionado)

"Sim, poderá viver para ver esta prometida Nova Ordem, junto com os sobreviventes da geração de 1914 - a geração que não passará."

A Sentinela 15 de Novembro de 1984



11 anos depois, em A Sentinela...
"O povo de Jeová ...às vezes tem especulado sobre quando irromperia a “grande tribulação”, até mesmo relacionando isso com cálculos sobre a duração da vida duma geração desde 1914." (grifo adicionado)

"Em vez de estabelecer uma regra para a medição do tempo, o termo “geração”, conforme usado por Jesus, refere-se principalmente a pessoas contemporâneas dum certo período histórico, com as características identificadoras delas."

"Não precisamos conhecer de antemão a data disso."

A Sentinela 1.º de Novembro de 1995



Eruditos e Comentaristas da "Cristandade apóstata"
A Sociedade cita no segundo artigo da Sentinela de 1.º de Novembro de 1995 quatro eruditos para fundamentar os pontos que ela deseja. Os eruditos são:
  • Walter Bauer (Greek-English Lexicon of the New Testament)
  • William Edwy Vine (Expository Dictionary of New Testament Words)
  • Joseph Henry Thayer (Greek-English Lexicon of the New Testament)
  • Gerhard Kittle (Theological Dictionary of the New Testament)
Um detalhe interessante: todos eles têm vários aspectos em comum. Todos eles possuíam formação de ensino superior, todos eles já estão falecidos e, acima de tudo, todos eles tinham afiliação com a "Cristandade apóstata", aquela que a Sociedade chama de "a parte mais repulsiva" de "Babilônia, a Grande" que vai queimar no fogo eterno do Armagedom. Mas isso não é tudo!
Forjando Uma Excelente Reputação Por Citações
O que é ainda mais interessante é que exatamente o mesmo erudito e sua obra são citados tanto pela Sentinela de 1984 como pela Sentinela de 1995 para provar duas posições exatamente opostas. Veja as citações:

"...“A totalidade dos nascidos na mesma época, que se estende para incluir todos os que vivem numa dada época em relação a uma geração, contemporâneos.” (A Greek-English Lexicon of the New Testament da Quinta Edição de Walter Bauer, 1958)".
A Sentinela de 15/11/84

"Nos Evangelhos, a palavra “geração” traduz a palavra grega ge·ne·á, que léxicos atuais definem nos seguintes termos: “Lit[eralmente], os que descendem d[um] mesmo antepassado.” (Greek-English Lexicon of the New Testament, de Walter Bauer)". (grifo acrescentado)
A Sentinela de 1/11/95
Que confiança têm você numa organização que usa artifícios como os acima para construir uma boa imagem? O que diria isso sobre as demais inúmeras citações que a Sociedade usa ao longo de suas publicações? Deixamos a resposta a você, leitor!


(para a continuação deste artigo click "1914 - A Geração Que Não Passará" - Part II)

Para saber mais:


Vida Eterna na Terra?




(Traduzido e cedido por Miguel Servet Jr.)
5 de Junho de 2003


Com freqüência, pessoas que anteriormente pertenceram à religião das Testemunhas de Jeová levantam a questão sobre o ensino dessa religião concernente à vida eterna na terra. Segue-se uma resposta escrita por Raymond Franz, autor da publicação "Crise de Consciência", editora Commentary Press:


Você mencionou questões referentes à vida na terra. No que diz respeito ao modo em que ocorrerá a ressurreição em todos os detalhes, eu não vejo razão para dogmatismo. O mesmo vale para a vida na terra. Estou perfeitamente feliz em esperar para ver qual será o destino eterno das pessoas de acordo com a disposição de Deus, e sinto que não é sábio pretendermos saber tudo o que há para se saber sobre o assunto.

Quando as pessoas escrevem sobre isso eu geralmente respondo que, com relação à esperança de alguém, eu só posso incentivar que esta seja equilibrada com um reconhecimento de que nossa compreensão raramente é algo isento de ajuste ou melhoria. Quando uma promessa é clara e definitivamente declarada na Bíblia, nós podemos não só esperar que se cumpra como também podemos ter plena confiança e fé nela. Isto é verdadeiro no caso da esperança do perdão dos pecados, da ressurreição e da esperança de vida eterna. Tais esperanças são declaradas clara e extensamente, até mesmo repetidamente, nas Escrituras Cristãs.

Uma vez que, com relação à esperança de vida na terra, qualquer argumentação pode ser apresentada, usando-se certos textos isolados ou profecias das Escrituras Hebraicas, eu não creio que se possa dizer que uma apresentação comparativamente clara, definida e completa de tal esperança seja encontrada nas Escrituras Cristãs. Eu não estou argumentando contra a esperança de alguém nesse sentido, mas sim demonstrando que ela deve ser vista como simplesmente isto, uma esperança e não como algo que dê margem a uma convicção que vá além do que as promessas feitas claramente por Deus permitam e encorajem.

É certamente injustificado assumir, por exemplo, que os dois primeiros capítulos de Gênesis contêm uma revelação completa do propósito eterno de Deus para a humanidade ou para o universo físico, como se isso estivesse eternamente determinado por Deus, sem qualquer possibilidade de uma revelação posterior que ampliasse o quadro e o alcance do propósito Dele, tornando evidentes aspectos previamente desconhecidos ou não declarados. Deus declarou ao primeiro casal humano o destino deles se desobedecessem. Ele não tratou do futuro eterno deles se obedecessem. Ocorre com muita freqüência que o raciocínio dedutivo pode ser influenciado por idéias subjetivas ou pressuposições. Em vez de, com efeito, colocar uma limitação dedutiva em Deus e em Seu propósito, parece que seria mais respeitoso e razoável ver tais capítulos como apresentando a expressão de Sua vontade e Seu propósito para aquele momento da história da humanidade e para as circunstâncias então existentes.

 

Jesus, por exemplo, ensinou muitas coisas novas às pessoas, além de corrigir preconceitos existentes entre os judeus, mas muitas das coisas que ele declarou, sobre a lei, a base para a salvação, a unidade entre os judeus e os gentios, o lugar e a maneira de seu futuro reino, e uma série de outras, foram freqüentemente expressas originalmente de forma notavelmente breve; muitas vezes como nada mais que um princípio básico, declarado com pouca elaboração. As implicações disso foram tremendas, porém, não foi senão depois de sua morte que elas foram percebidas claramente e "declaradas" nos escritos apostólicos subseqüentes.

 

Em vez de basear nosso entendimento e esperança na hipótese de que os dois primeiros capítulos de Gênesis de algum modo são definitivos quanto à idéia de Deus para o destino humano, deveríamos permitir que outros textos equilibrassem e moderassem nosso pensamento, como é o caso das palavras de Paulo em Efésios 1:3-6 e 3:6-12, onde ele relaciona livremente o "propósito eterno" de Deus com as boas novas que resultam do sacrifício, morte e ressurreição de Cristo, e como se estendem Suas promessas para aqueles que formam o "corpo de Cristo." Não creio que neste assunto possamos pretender conhecer de maneira segura a mente de Deus, de uma maneira dogmática, como parecem fazer as publicações da Torre de Vigia.

 

No Salmo 37, Davi está realmente falando a respeito dos entendimentos de Deus e de Seus procedimentos então, nos dias dele, como demonstra uma comparação do versículo 10 com os versículos 35 e 36. A Sociedade Torre de Vigia entende que as palavras de Jesus em Mateus 5:3-11 aplicam-se aos "ungidos", aparentemente devido à ocorrência de expressões como "seu é o reino dos céus," etc. Então, para ser coerentes, deveriam entender o versículo 5 (que corresponde ao Salmo 37:11) como também se aplicando a eles. Na realidade Cristo é tornado o herdeiro de todas as coisas do Pai, inclusive da terra, e seus seguidores também compartilham essa herança. (Hebreus 1:2; Romanos 4:13-16; 8:15-17) Sem dúvida, essa é a razão pela qual Paulo pôde dizer de seus companheiros cristãos que "o mundo" já lhes pertencia, de modo que nesse sentido já haviam "herdado a terra" e todas as demais coisas -1 Coríntios 3:21-23.

 

O termo "para sempre" ("tempo indefinido", na TNM) e que se usa com relação à terra em Eclesiastes 1:4, vem do hebraico ohlam e não significa necessariamente "eterno". Usa-se em aspectos relacionados à lei Mosaica e ao sacerdócio Arônico - coisas que foram de longa duração, mas não eternas - como se pode ver quando usamos uma concordância. Quanto à própria terra, alguns citam certos textos bíblicos para indicar seu eventual desaparecimento, como por exemplo:

 

Céus e terra passarão. - Mat. 24:35.

 

Uma vez mais, farei tremer não só a terra, mas também o céu.” - Heb. 12:26, 27. As palavras "uma vez mais", indicam a remoção daquilo que se faz tremer.

 

Tu, ó Senhor, lançaste as fundações da terra, e os céus são o trabalho de tuas mãos. Eles perecerão, mas tu permaneces, eles se gastarão como a roupa. - Heb. 1:10, 11.

 

A terra e tudo nela será queimado. - 2 Pedro 3:10.

 

Entretanto, esses textos ou seus contextos são geralmente de uma natureza que põe em dúvida sua literalidade. As Escrituras Hebraicas estão repletas de exemplos do uso de formas poéticas, expressões figurativas - como rios "que batem palmas", campos que "se regozijam", ou a terra que "em pranto se desvaneceu", etc - e com freqüência, os textos citados das Escrituras Cristãs como tratando do futuro da terra parecem ser de uma natureza similar. (Salmo 98:7,8; Isaías 24:4) De qualquer modo, não creio que o assunto esteja tão claramente detalhado para querermos ser muito específicos.

 

Às vezes se faz referência à declaração de Jesus a respeito de João Batista em Mateus 11:11. Foi feita numa época em que João ainda estava vivo e evidentemente em relação à sua vida e carreira humana, e ao que ele foi como homem. Nenhum humano, não importa quão grande seja na terra, é igual aos que compõem o reino celestial de Cristo, já que estes possuem a semelhança de seu Chefe regente. Mas a comparativa inferioridade da carreira humana terrestre de João, certamente não impediria que ele pudesse tornar-se um dos que compõem esse reino celestial. De modo que, como mostra o contexto, Jesus poderia muito bem estar focalizando um aspecto diferente do assunto e que tinha que ver com o trabalho dos profetas. Mesmo a obra de João de preparar o caminho para Cristo não se compara com o privilégio de tê-lo aceitado, depositando fé nele e dando testemunho a respeito de sua morte e ressurreição como Redentor, etc. A interpretação da Torre de Vigia está fortemente condicionada por raciocínio circular e é simplista, já que essencialmente ignora o contexto e a realidade das circunstâncias existentes naquele momento.

 

Revelação 5:10 e sua aplicação no primeiro século mesmo, é considerada nas páginas 544 a 548 do livro Em Busca de Liberdade Cristã (em inglês). Sejam os mil anos de Revelação capítulo 20 literais ou simbólicos, ou seja qual for o significado de 2 Pedro 3:13 quando fala a respeito de uma "nova terra", a validez desses pontos mencionados não se altera. Obviamente, Revelação é um livro repleto de símbolos e de imagens e expressões simbólicas. Qualquer parte desse livro pode ser entendida somente à luz de outras declarações claras que aparecem no resto das Escrituras Cristãs, e o simbólico deveria sempre se apoiar ou se conformar ao literal, e não o contrário. Com referência a 2 Pedro 3, poderíamos nos perguntar se seria correto atermo-nos somente à referência à "nova terra" e desprezar as referências do contexto a respeito da dissolução da terra e de seus elementos assim como à dissolução dos céus. Poderíamos aplicar partes como figurativas (por exemplo, os versículos 7 e 10) e outras partes como literais (por exemplo, os versículos 5, 6 e 13)? Por que faríamos isso? Sugere o texto a remoção do planeta atual e a sua substituição por um outro? Se for assim, como podem as pessoas esperar sobreviver e ainda permanecer no planeta destruído? Estas perguntas simplesmente mostram a razão por que creio que temos de ser cautelosos e quão pouco sábio é tomar um ou dois textos - textos esses que empregam imagens proféticas - e usá-los como se fossem textos-chave a partir dos quais deveriam ser entendidos todos os outros. Acredito que uma pessoa sempre enfrentará dificuldade e possivelmente considerável ansiedade a não ser que se atenha aos fatos bem fundados envolvidos nas boas novas e deixe que outros detalhes não tão seguros ocupem um lugar menor em importância. Como a Nova Bíblia Inglesa verte Filipenses 1:9, 10:

 

“E esta é minha oração, que seu amor cresça mais e mais em conhecimento e perspicácia de toda sorte, e possa assim trazer-lhes a dádiva do verdadeiro discernimento.” (Nota ao pé da página: que possam aprender pela experiência quais são as coisas de maior valor).

 

Tradução do Novo Mundo ajusta as palavras de Hebreus 11:16 para adaptá-las ao ensino da Torre de Vigia, mas como se pode ler na maioria das traduções, o texto grego simplesmente diz, "eles desejam uma pátria melhor, quer dizer, a celestial."

 

Em última análise, não penso que esse assunto esteja tão detalhado para querermos ser muito específicos. Parece-me difícil acreditar que este planeta terrestre deva ser removido da existência, tendo sido ele o cenário onde ocorreu todo o drama da criação e da queda da humanidade, o cenário das vidas de fé e coragem de homens e mulheres ao longo dos séculos, e sobretudo, o cenário do supremo ato de amor representado pela vida e morte de Cristo. Mas isso também não é mais do que meu próprio raciocínio humano.

 

Realmente parece que, depois de tudo considerado, o assunto principal é que temos a perspectiva de vida eterna. O "onde" parece ser de menor importância quando comparado com a esperança de que possamos vencer a morte. O mesmo vale para a nossa reunião alegre com as pessoas amadas pelo poder de ressurreição de Deus. Certamente a própria reunião é mais importante do que o local onde ocorrerá. Reconhecer isso pode nos dar certa medida de serenidade ao lermos as Escrituras e permitirmos que elas moldem a nossa mente - sejam quais forem as conclusões a que conduzam ou o tempo que leve para chegarmos a elas. Como a tradução de Phillips verte Filipenses 4:4-7:

 

“Deleitem-se no Senhor, sim, encontrem seu gozo nele todo o tempo. Tenham a reputação de ser razoáveis, e nunca esqueçam a proximidade de vosso Senhor. Não se preocupem com nada absolutamente; seja quando for que orarem, digam a Deus todos os detalhes de suas necessidades em oração grata, e a paz de Deus, que supera a compreensão humana, manterá constante guarda sobre vossos corações e mentes conforme eles descansam em Cristo Jesus.”

 

Meu conselho portanto, para os que levantam a questão da vida eterna na terra e o sistema das "duas classes" de cristãos, é que simplesmente leiam as Escrituras Cristãs com mente aberta, tentando evitar que as pressuposições influenciem seu entendimento - algo freqüentemente mais fácil de dizer que de fazer - deixando que o que leiam governe seu entendimento. Eu não tenho interesse em discutir com eles com o fim de fazer prevalecer um ponto de vista sobre outro.

 

Quanto ao outro lado da questão, as muitas expressões que aparecem nos escritos apostólicos a respeito da esperança de estar com Cristo, ter uma ressurreição como a dele, sentar-se com ele em seu trono na presença de seu Pai, parecem dar razão sólida para acreditarmos em uma existência celestial futura, a menos, é obvio, que se acredite, como ensinam algumas religiões, que Cristo tem de voltar para a vida na terra. Em João 14:1-4 são citadas as palavras de Jesus a seus discípulos: "Na casa de meu Pai há muitas moradas... E se eu for e preparar um lugar para vós, virei novamente e os levarei comigo, para que onde eu estiver, vós possais também estar." Se ele fosse estar na terra e seus discípulos também, não haveria necessidade de ir a parte alguma preparar um lugar para eles (Veja também João 16:5; 17:5, 11, 24; 1 Coríntios 15:42-54; 2 Coríntios 5:1-10; Filipenses 1:21-23; Colossenses 3:1-4; 1 Tesalonicenses 4:13-17; Revelação 3:21). Ou entendemos os argumentos e expressões que favorecem a vida na terra de um modo bem diferente do que parecem dizer, ou se requer duas esperanças para os cristãos, em lugar de "uma esperança" como indica Paulo - Efésios 4:4.

 

Quanto aos 144,000 de Revelação 7, pessoalmente não vejo razão para vê-los de outro modo que não seja o simbólico, assim como ocorre com muitas outras coisas em Revelação. Há grande inconsistência na interpretação da Torre de Vigia. Eles dizem que o "Israel" (mencionado no versículo 4) é simbólico, que as doze "tribos" são simbólicas e que os "12.000" de cada tribo são simbólicos. Entretanto, depois de reconhecer todos estes elementos como simbólicos, quando chegam ao número 144.000 eles dizem que é literal! Isso é ilógico.

 

Alguns sugerem que a primeira visão de João (a das 12 tribos de 12.000 cada uma) simboliza o que às vezes foi chamado de "a igreja militante", quer dizer, a congregação cristã sobre a terra vista como um "Israel" ideal, o "Israel de Deus" (Gálatas 6:16 [escrita principalmente para os cristãos gentios]; compare com Romanos 2:28, 29; 9:6-8; Gálatas 3:28, 29), enquanto que a visão seguinte (a da grande multidão de todas as nações que está de pé diante do trono de Deus) representa a "igreja triunfante," os membros do corpo cristão que completaram sua carreira terrestre, que suportaram tribulação e que agora receberam sua recompensa celestial. Sem ser dogmático, este é pelo menos um modo de entender essas visões que parece harmonizar-se mais com o resto dos ensinos bíblicos.

 

Não conheço nenhuma obra específica que tente determinar o número de cristãos existentes durante os primeiros séculos da Era Comum. Às vezes se faz referência ao Fox’s Book of Martyrs (O Livro dos Mártires de Fox). Não sei quão exato é, mas o fato de que pouco depois do Pentecostes já havia mais de 5.000 discípulos varões em Jerusalém dá uma indicação. (Atos 4:4) Em sua alegoria da Jerusalém terrestre e celestial, Paulo cita o texto de que "os filhos da mulher  [inicialmente] desolada [a Jerusalém de cima], são mais numerosos do que os filhos da que está casada [a Jerusalém terrestre]." Os cristãos como filhos e herdeiros de Deus são filhos da mulher livre, e portanto deveriam ser mais numerosos do que os da mulher escrava, quer dizer, o Israel carnal. (Gálatas 4:21-31) O número de israelitas era de milhões. Para a declaração do apóstolo estar correta, o número dos filhos cristãos da Jerusalém celestial deveria superar essa quantidade.

 

Mais uma vez, a coisa principal é a sua leitura pessoal das Escrituras. Conforme você as lê, elas irão guiando seu entendimento. Quando alguém se encontra diante de várias interpretações bíblicas que possam diferir amplamente umas das outras, parece que a melhor salvaguarda é manter em foco o quadro completo, a mensagem global, não isolando uma parte de outra. A razão para tal grande variedade de interpretações de diversos pontos é, sem dúvida, devido à tendência de focalizar somente uma parte das Escrituras em lugar de vê-las como um todo. Recentemente um amigo me enviou certo material que incluía uma citação de B. F. Westcott, que participou no desenvolvimento do bem conhecido texto ou resenha das Escrituras, chamado Westcott e Hort. Em seu livro A Bíblia e a Igreja, ele faz este comentário:

 

“Não há tentação mais sutil e poderosa do que a que nos impele a julgar tudo por um padrão. Na prática, temos a tendência de julgar a outros comparando-os com nós mesmos, comparamos uma idade com a nossa e outras formas de civilização com aquela sob a qual vivemos, como a medida verdadeira e final de tudo. Mas contra esse engano, que é quase suficiente para ocultar o mundo inteiro, a Bíblia contém o amparo mais seguro. Nela vemos, passo a passo, como Deus encontra morada entre nações e famílias de todo estágio de desenvolvimento social e como reconhece a seus fiéis adoradores, embora estes passem desapercebidos até mesmo dos profetas. As preocupações absorventes da vida diária e as demandas imperiosas dos mais próximos a nós, tendem a diminuir nossas simpatias, mas a Bíblia nos mostra em seu registro perdurável, toda a condição e o poder do homem quando este é abençoado pelo Espírito Divino. Ela tira-nos do círculo das influências diárias e nos apresenta a profetas e reis, a profundos pensadores e pregadores da justiça, trabalhando em suas respectivas esferas de várias maneiras, mas guiados pela mesma força e pelo mesmo objetivo. Poder-se-ia questionar que, freqüentemente, os devotos estudantes da Bíblia provaram ser tremendos fanáticos. Mas a resposta é simples. Foram fanáticos porque não estudaram a Bíblia inteira, mas somente um fragmento dela, sacrificando todo o restante. Ensinar somente uma parte, isolando-a, sem levar em consideração sua posição relativa em relação a outros tempos e a outros livros, pode conduzir à estreiteza de pensamento, mas o todo reconhece e enobrece toda a excelência do homem.”

 

Acredito que há muito pensamento sólido expresso nestas palavras. Tem-se dito que as seitas se desenvolvem porque colocam a ênfase em assuntos que não são importantes ou que não estão claramente definidos, e que esse teorizar sobre assuntos menores e inclusive secundários, e defender tal teoria é o que produz um movimento que se distingue dos outros.

 

Ler as Escrituras a partir dessa base, centrando-nos na mensagem, permite-nos sentir genuinamente que chegamos a conhecer a fonte dessa mensagem. A Tradução do Novo Mundo de João 17:3, com sua versão "absorvam conhecimento de ti," perverte o sentido real da declaração, fazendo parecer que é basicamente adquirir informação mental o que está envolvido. Nas Escrituras, a palavra "conhecer" tem freqüentemente um significado mais profundo, como ocorre neste caso. (Compare com João 1:10; 8:19; 10:14, 15.) Não podemos ter fé genuína se nossa leitura das Escrituras for feita simplesmente com o objetivo de entender certas doutrinas. O verdadeiro propósito deveria ser chegar a conhecer a Deus e a seu Filho. Não posso acreditar que uma pessoa sincera de coração que tenha chegado a conhecê-los, vendo-os em sua verdadeira luz e de uma maneira íntima, não possa ser atraída a eles e encontrar neles algo sobre o qual basear a vida com segurança e confiança. - Mateus 11:25-30; 2 Timóteo 1:12.

 

Como Testemunhas, muito de nossa fé era uma fé emprestada já que acreditávamos no que acreditávamos porque nos diziam que devíamos acreditar naquilo. E embora sem dúvida há entre as Testemunhas em geral o sentimento de que têm uma relação pessoal com Deus e Cristo, para a maioria deles este é sem dúvida um sentimento amortecido, com freqüencia tênue. A fé genuína não pode ser cedida, transferida ou transmitida - embora nossa propensão humana para a preguiça nos faça desejar que possa. Naturalmente, nós podemos ser ajudados, uma vez que, conforme diz o apóstolo "a fé segue a coisa ouvida", mas, no fundo, a fé deve nascer e crescer no coração de cada pessoa. (Romanos 10:17) Cada um de nós deve desenvolver fé por aceitação e convicção pessoal; ninguém mais pode fazer isso por nós. Quando este é o caso, e a fé é verdadeiramente nossa propriedade, desfrutaremos de um real e pleno senso de relação pessoal com Deus e seu Filho. E quando isso se obtém, pela primeira vez uma pessoa percebe de quanto tinha sido privada antes.

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